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Especialistas destacam chance histórica para o Brasil assumir protagonismo global em data centers e IA
Os data centers e as fontes de energia são grandes pontos de atenção em relação à Inteligência Artificial. Durante o Emtech Brasil, conferência global sobre tecnologias emergentes que desembarca pela primeira vez em São Paulo, Hudson Mendonça, CEO e VP Energia e Sustentabilidade do Energy Summit e MIT Technology Review Brasil, Alessandro Lombardi, Presidente da Elea Data Centers e Carlos Aros, editor-executivo do MIT Technology Review, discutiram sobre data centers, IA e a energia necessária para alimentar a economia digital, num debate que destacou a oportunidade considerada “histórica” para o país.
A infraestrutura de data centers e o fornecimento de energia são grandes pontos de atenção para a Inteligência Artificial. O principal fator que impulsiona o interesse internacional no Brasil é sua matriz energética. Data centers consomem uma quantidade considerada “absurda” de energia. Enquanto a média mundial de matriz elétrica limpa é de apenas 30%, o Brasil tem 90% de sua matriz limpa, sendo um “sonho de consumo”. O país possui “espaço infinito para crescer” em qualquer fonte energética que desejar, como sol, vento e biomassa.
Hudson Mendonça destacou que o Brasil tem condições que “não dá para replicar”. Lombardi reforçou que potências como os Estados Unidos enfrentam uma crise energética, tendo vendido mais chips de IA da Nvidia do que o sistema consegue abastecer. “Os EUA têm uma necessidade de 100 GW de data centers, mas o sistema suporta talvez 30 GW. E a pouca energia disponível não é oriunda de fontes renováveis”, disse Lombardi.
A corrida global pela Inteligência Artificial esbarra em uma questão decisiva: a energia necessária para alimentar modelos cada vez mais complexos. Data centers consomem volumes gigantescos de eletricidade e, em muitos países, a matriz energética não acompanha a demanda. Nesse cenário, o Brasil surge como destaque. Enquanto a média mundial de energia limpa não ultrapassa 30%, a matriz brasileira é composta por cerca de 90% de fontes renováveis.
Durante o Emtech Brasil, conferência global sobre tecnologias emergentes realizada em São Paulo, especialistas reforçaram o peso dessa vantagem. Hudson Mendonça, CEO e VP de Energia e Sustentabilidade do Energy Summit e MIT Technology Review Brasil, afirmou que o Brasil possui condições que “não dá para replicar”. Alessandro Lombardi, presidente da Elea Data Centers, foi além: “O motivo pelo qual as empresas vêm ao Brasil é a energia verde. Sustentabilidade não é negociável.”
EUA em crise, Brasil em ascensão
A comparação internacional mostra o potencial brasileiro. Nos Estados Unidos, a explosão da IA fez a demanda por chips da Nvidia superar a capacidade energética do país. Segundo Lombardi, há necessidade de 100 GW para data centers, mas o sistema comporta apenas 30 GW, em grande parte de fontes não renováveis. Já a Noruega, que supera o Brasil em matriz limpa (93%), não tem escala: sua população é menor que a da cidade do Rio de Janeiro, e sua sobra energética não comporta grandes operações. A Índia, outro competidor em infraestrutura, também perde relevância por não contar com matriz verde.
Nesse contexto, especialistas afirmam que o Brasil é hoje “o único grande país do mundo” com matriz energética limpa e disponível em larga escala, um diferencial que pode atrair investimentos bilionários e redefinir a posição do país na economia digital.
Do “custo Brasil” à virada regulatória
Se a energia sempre foi vantagem, a carga tributária era o grande obstáculo. O chamado “custo Brasil” fazia com que equipamentos essenciais, como GPUs da Nvidia, chegassem ao país com sobrecarga de até 86%. Essa barreira começou a ser derrubada com a assinatura de uma Medida Provisória pelo presidente Lula, que instituiu a política nacional de data centers e zerou impostos federais sobre CPUs, GPUs e equipamentos de infraestrutura.
O próximo desafio é a adesão dos estados. Para Lombardi, a isenção de ICMS será crucial para consolidar a competitividade. “Se os governadores aprovarem a desoneração até 14 de outubro, o Brasil pode mudar rapidamente de ser o país mais caro ao menos caro para data centers. Essa é uma oportunidade que não pode perder tempo.”
Rio de Janeiro assume protagonismo
Embora São Paulo concentre 70% dos dados da América Latina, seu sistema de transmissão está saturado, dificultando a instalação de grandes projetos. O protagonismo, nesse momento, migra para o Rio de Janeiro. O estado foi escolhido pela Nvidia para sediar a primeira “City” de infraestrutura dedicada à Inteligência Artificial, em parceria com a Elea Data Centers.
O projeto prevê 3 GW de capacidade, tornando-se o maior data center da América Latina. Além disso, a prefeitura tem investido em iniciativas que permitam a startups e jovens criadores acessar tecnologia de ponta a baixo custo, estimulando a inovação local. “Ter GPUs da Nvidia no Brasil vai facilitar o surgimento de uma tecnologia nacional de IA, que hoje representa apenas 0,01% da capacidade computacional global”, afirmou Lombardi.
Ceará e a força da conectividade
Outro polo estratégico citado pelos especialistas é o Ceará, que se consolidou como porta de entrada de cabos submarinos e hoje é um dos lugares mais conectados da América Latina. Para Mendonça, essa característica é decisiva: “A tecnologia de IA se difunde pela internet. Estar conectado aos principais hubs globais é essencial.”
Integração com as cidades e atração de talentos
Apesar do consumo de energia em larga escala — um data center pode gastar o equivalente a um estado inteiro em 1 milhão de m² — especialistas apontam que essas estruturas caminham para um modelo de simbiose urbana. O calor residual pode ser reaproveitado em estufas ou sistemas de aquecimento, mas o principal valor de troca é outro: a capacidade computacional e a riqueza gerada.
No caso do Rio, a combinação de infraestrutura energética, investimento em ecossistema e qualidade de vida é vista como diferencial para atrair talentos internacionais. “Pessoas talentosas querem morar em um lugar que oferece praia e acesso à carreira. Isso facilita a atração de cérebros globais”, afirmou Lombardi.
Mão de obra e mentalidade empreendedora
O setor brasileiro de data centers é considerado maduro, mas a expansão exigirá a formação de milhares de profissionais por ano. “A qualificação é um gargalo, mas ajustável”, avaliou Mendonça. Ele ressaltou que o desafio maior não é técnico: o Brasil já ocupa a 11ª posição mundial em publicação de papers científicos. O problema está em converter conhecimento em negócios. “É preciso incutir a mentalidade empreendedora dentro das pessoas técnicas”, disse.
Oportunidade histórica e risco de perder espaço
Especialistas alertam que o protagonismo brasileiro pode ser afetado por novas tecnologias, como a fusão nuclear, que promete energia renovável e praticamente ilimitada. Embora ainda distante da aplicação comercial, a expectativa é que em dez anos ela possa mudar radicalmente o mercado global de energia.
Até lá, a janela de oportunidade é clara. “O país tem que aproveitar agora, para não deixar alguns bondes irem adiante”, concluiu Mendonça. “As condições foram criadas pelo setor público, e agora o desafio cabe à indústria privada e à infraestrutura para entregar o potencial que o Brasil pode oferecer.”
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O post Especialistas destacam chance histórica para o Brasil assumir protagonismo global em data centers e IA aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Cecília Ferraz
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