8 verdades sobre como a tecnologia já molda toda a sua vida e talvez você nem tenha percebido

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8 verdades sobre como a tecnologia já molda toda a sua vida e talvez você nem tenha percebido

*Por Marcel Nobre

Já imaginou como seria se hoje você precisasse fazer uma viagem longa sem usar o Google Maps? Ficar um mês inteiro sem pedir comida por aplicativo? Ou pior: sem acessar o Instagram por uma semana? Embora essas tecnologias tenham entrado na nossa vida com a promessa de nos dar conforto, facilidade e diversão, hoje são responsáveis por moldar nosso comportamento, decisões e até opiniões, como defendem alguns analistas. Da privacidade à autonomia, o especialista em tecnologia, inteligência artificial e inovação Marcel Nobre, fundador e CEO da BetaLab, listou e explicou 10 formas sutis (e preocupantes) sobre como as tecnologias digitais já influenciam, moldam e definem a nossa vida. 

1 – Privacidade não existe mais 

Uma pesquisa da Consumer Pulse divulgada em julho deste ano mostrou que os brasileiros passam mais de 9 horas por dia navegando na internet, sendo que mais de 3 delas são dedicadas somente às redes sociais. No mundo, o Brasil fica acima da média global quando o assunto é conexão. Para Marcel, o uso das redes sociais e aplicativos têm impacto direto na forma como entendemos e lidamos com a privacidade e a hiperconexão.  

“Tudo o que fazemos online deixa um rastro digital: pedir comida por aplicativo, usar o Waze, Google Maps, assistir à Netflix, comprar blusinha na Shopee… E isso vai criando dados. No fim das contas, os aplicativos de celular hoje são empresas de dados fantasiadas de empresas de serviço. Em troca da privacidade, do tempo, do entretenimento, fornecemos nossas informações a essas empresas, e ainda de forma consentida, porque concordamos com os termos de responsabilidade, mesmo sem ter lido. E não sabemos para onde vão esses dados”, comenta o especialista.  

2 – Estamos ficando mais preguiçosos, distraídos e menos críticos 

Uma pesquisa feita pela Reviews.org, nos Estados Unidos, apontou que os americanos consultam o celular, em média, 144 vezes por dia, sendo que, em geral, a primeira checagem ocorre logo após o acordar. Além disso, de acordo com uma pesquisa realizada pela psicóloga americana Gloria Janet Mark, o tempo de atenção que as pessoas permanecem em uma única tela antes de passar para outra é de 47 segundos.  

“Um estudo recente do MIT [Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts] concluiu que o uso excessivo de IA pode reduzir em até 32% a nossa carga cognitiva necessária para aprendizagem, além de causar efeitos na memória, engajamento neural e até dependência. Aos poucos, estamos reduzindo nosso pensamento crítico e virando massa de manobra, pois está muito fácil manipular a nossa opinião, já que estamos desaprendendo a pensar. Então, se não colocarmos intenção na forma como usamos a tecnologia, estaremos no modo automático, que é o que estamos vivendo hoje”, explica Marcel. 

3 – A inteligência artificial não é inteligente 

“É muito importante entender que quando a inteligência artificial está falando, ela não está sentindo aquilo. Ela não é inteligente, porque a inteligência é um processo biológico natural humano, que não dá para uma máquina fazer. A IA emula para o que foi treinada. Nenhuma inteligência artificial é capaz de criar nada sozinha, sem ter um input ou sem alguém treiná-la. Mas ela vai falar o que você quer ouvir, através dos dados que você deu para ela. No fundo, ela não gosta de você, não sente nada e nem sabe quem é você”, diz Marcel.  

Ele explica que a GenAI, por exemplo, é um combinador de palavras por probabilidade. Ao entender o contexto do que é dito, ela quebra a informação por tokens e tenta adivinhar qual é a próxima palavra que faz mais sentido, numa matemática altamente avançada e de alto poder computacional. “O problema é que estamos tratando o ChatGPT como pet. Colocando essas IAs para atender clientes, organizar nossos projetos e ajudar em decisões estratégicas.” 

4 – A IA sabe mais de você do que você mesmo 

O especialista explica que as plataformas digitais funcionam a partir de monitoramento de comportamento, por meio das interações que deixamos, como curtidas, comentários e compartilhamentos, em qualquer rede social. “Você vai indicando para ele traços da sua personalidade. Como já são bastante evoluídos, os algoritmos conseguem traçar um perfil comportamental do usuário”. 

Ele questiona: “já imaginou como seria se esses dados fossem usados para prever com precisão qual conteúdo teria uma chance maior de mudar a sua opinião? Se a IA, com base nos seus dados, pudesse te classificar como potencial risco? Não por algo que você fez, mas pelo que o algoritmo acha que você pode fazer. Tem alguém definindo o que é parâmetro e o que é padrão de comportamento para uma pessoa normal. Como se existisse uma pessoa normal. Desconfio que ainda não entendemos os riscos que estamos correndo.” 

5 – Poucas empresas dominam toda a informação do mundo 

Atualmente, são três as empresas líderes de mercado em infraestrutura de nuvem: Amazon Web Services (AWS), com percentual próximo a 40%; Microsoft, com 30% e Google, com participação que pode chegar a 10%. “Esse nível de concentração de poder virou um jogo geopolítico, porque é uma ferramenta tão inteligente na mão de poucos. Precisamos pensar o que podemos fazer para reconquistar a nossa autonomia. Essas empresas têm o poder de regular a economia digital e decidir quem é monetizado ou não, o que é silêncio e quem é silenciado. Então, quem define o que é verdade? O que vai aparecer no seu feed, o que vai aparecer na sua busca, no seu ChatGPT? Alguém pode escolher e definir isso para você. As empresas de tecnologia, assim como as outras, visam lucro, não bem-estar. O grande problema é se fantasiarem de resolvedoras de problemas, sem se preocupar com as consequências das ferramentas que elas mesmas estão criando”, alerta. 

6 – O poder de decisão está se tornando uma ilusão 

Um estudo da Ilumeo aponta que 80% dos consumidores estão dispostos a aceitar ajuda da inteligência artificial para tomar uma decisão de compra. A mesma lógica funciona nas redes sociais, que traz recomendações de postagens. “O TikTok, por exemplo, analisa milhares de sinais, desde o tempo de visualização, repetição, toques no perfil, até metadados de áudio e imagem para ajustar instantaneamente o feed de cada usuário”, comenta Marcel.   

Ele cita o caso da Cambridge Analytica, empresa de análise de dados que trabalhou com a equipe responsável pela campanha política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2016, e que também promovia o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. A companhia teria comprado acesso às informações pessoais de usuários do Facebook, por meio de testes de personalidade, e utilizado esses dados para prever e influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas. Após a explosão do caso, a Cambridge Analytica deixou de existir, enquanto a Meta, responsável pelo Facebook, concordou em pagar US$725 milhões para encerrar uma ação coletiva a respeito.  

“Eles adaptam o perfil, a personalidade psicossocial de cada pessoa, e mandam fake news e desinformação dirigida, segmentada por grupos de mensagem para desestimular o voto, especialmente entre minorias. Tentam fazer mudar de opinião, se a pessoa for mais suscetível a isso”, explica.  

7 – O algoritmo te isola e te ensina o que você vai desejar 

O especialista comenta que outra atividade do algoritmo é moldar comportamentos a partir da repetição de conteúdos, mesclando o que o usuário efetivamente gostaria de receber com o que ele poderia um dia chegar a gostar, até o momento em que uma mudança de hábito, por exemplo, efetivamente ocorre. “As pessoas não percebem, porque é feito de forma subliminar, para estimular uma compra e recolher dados. Ao ler o comportamento do usuário, eles antecipam o padrão. O resultado é começar a desejar e buscar coisas que normalmente o usuário não buscaria, porque elas foram plantadas por reforços algorítmicos, baseados em padrões comportamentais globais”, explica. 

 8 – A ultra conveniência está minando a autonomia  

“A ausência de fricção com o mundo está tirando a nossa autonomia de uma forma absurda. Hoje, se a compra não chegar no mesmo dia, não fechamos. O texto do e-mail é completado de forma automática. Escova elétrica, robô aspirador, lixo com sensor… A ultra conveniência te prometeu te dar mais tempo, mas onde ele está? Bem, ela não surgiu para te poupar tempo, mas para te liberar tempo para você consumir mais e ter acesso a mais produtos e serviços que você não precisa. Mas nós não percebemos isso ainda, satisfeitos com a ilusão de que estamos escolhendo alguma coisa. Será que o futuro da liberdade é apertar um botão e deixar o algoritmo resolver por você?”, provoca Marcel.  

Marcel Nobre é fundador e CEO da BetaLab.


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O post 8 verdades sobre como a tecnologia já molda toda a sua vida e talvez você nem tenha percebido aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Convidado Especial



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