Startupi
Educação digital: o elo mais fraco na corrente da cibersegurança brasileira
*Po Caio Telles
Um novo estudo divulgado pela Mimecast revelou um dado alarmante sobre cibersegurança: 95% das falhas de segurança registradas em 2024 foram causadas por erro humano. Este número, por si só, lança uma luz sobre uma realidade que, apesar dos impressionantes avanços tecnológicos e da crescente sofisticação dos ataques virtuais, persiste como nosso maior calcanhar de Aquiles: a deficiência em educação digital. No Brasil, esse desafio se agiganta, expondo um abismo preocupante entre a tecnologia disponível e o comportamento dos usuários.
A segurança cibernética, em sua essência, depende fundamentalmente do comportamento humano. De nada adianta termos as mais robustas muralhas digitais se, por dentro, as portas são inadvertidamente abertas por aqueles que deveriam ser os primeiros a protegê-las. Observamos no dia a dia uma série de práticas inseguras que persistem justamente pela falta de conhecimento básico sobre os riscos digitais.
O usuário, muitas vezes, não sabe como se proteger online. Erros como o uso da mesma senha em múltiplas plataformas, a suscetibilidade a golpes de phishing elementares, o compartilhamento excessivo de informações pessoais nas redes sociais e a confiança ingênua em mensagens que apelam para a urgência ou emoção são incrivelmente comuns. Esta vulnerabilidade não é um acaso, mas o reflexo direto de uma base educacional que ainda não incorporou a segurança digital como pilar essencial.
Uma questão social
O problema é sistêmico e se manifesta em diversas esferas. Nas escolas, onde a cidadania digital deveria ser cultivada desde a infância, o tema da cibersegurança é frequentemente negligenciado ou tratado de forma superficial. As universidades, por sua vez, ainda falham em integrar de maneira robusta a segurança cibernética nos currículos, até mesmo nos cursos de Tecnologia da Informação. Muitos profissionais chegam ao mercado sem as noções básicas para proteger os sistemas e dados com os quais irão trabalhar, uma lacuna que deveria ser impensável na era digital.
Uma pesquisa do DataSenado comprovou que a atenção deve estar nos mais jovens e com formação incompleta. Segundo o estudo, 27% das pessoas que perderam dinheiro em crimes digitais estão na faixa de 16 a 29 anos, e 35% possuem ensino médio completo, seguido por 29% com ensino superior incompleto.
No ambiente corporativo, a mentalidade reativa ainda predomina. Embora algumas empresas invistam em treinamentos, a maioria só se mobiliza após a ocorrência de um incidente de segurança, quando o prejuízo já está consolidado. Falta a cultura da prevenção, do investimento contínuo na capacitação dos colaboradores para que se tornem uma linha de defesa ativa, e não um ponto de falha.
Vemos, inclusive, resistência por parte da população em adotar medidas simples, mas eficazes, como a autenticação de dois fatores ou o uso de senhas fortes. Essa hesitação muitas vezes nasce da percepção de que tais medidas são incômodas ou da falsa sensação de que “isso só acontece com os outros”, um perigoso equívoco alimentado pela falta de entendimento sobre a real dimensão dos riscos.
Desafios da modernidade
O cenário se torna ainda mais complexo com o avanço da inteligência artificial, que potencializa ameaças como deepfakes e golpes de engenharia social cada vez mais personalizados e convincentes. Diante disso, a educação digital precisa evoluir. Não basta apenas ensinar a técnica de como usar uma ferramenta de segurança; é crucial desenvolver o pensamento crítico, a capacidade de identificar manipulação emocional e desinformação. Precisamos formar cidadãos digitais conscientes, capazes de discernir e agir com prudência no ambiente online.
Para começar a mudar esse panorama, o primeiro passo é tratar a cibersegurança como um direito e um dever fundamental da cidadania digital. Isso implica uma ação coordenada que envolva instituições públicas liderando campanhas nacionais de conscientização, a inclusão efetiva do tema nos currículos escolares desde os anos iniciais, a capacitação de servidores públicos e a criação de políticas públicas que incentivem a educação digital para todos os segmentos da população. A mídia tem um papel crucial na disseminação de informação de qualidade, e o setor privado deve assumir sua responsabilidade na formação contínua de seus colaboradores e na promoção de uma cultura de segurança.
Ignorar a educação digital é deixar a porta aberta para ameaças que podem comprometer não apenas dados pessoais e financeiros, mas a própria infraestrutura crítica do país e a confiança nas interações digitais. Investir em conhecimento e conscientização é, hoje, a estratégia mais inteligente e eficaz para fortalecer nossas defesas e construir um Brasil digitalmente mais seguro e resiliente.
*Ao lado do irmão, Bruno Telles, Caio Telles é cofundador da BugHunt, empresa de cibersegurança referência em Bug Bounty, programa de recompensa por identificação de falhas. É formado em Engenharia de Computação e atua na área de segurança há mais de 15 anos, com foco em segmentos como segurança ofensiva, defensiva, conscientização, GRC, entre outros.
Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!
O post Educação digital: o elo mais fraco na corrente da cibersegurança brasileira aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Caio Telles
from Startupi https://ift.tt/fiUKmDp
via IFTTT